Conhecido como uma das personalidades mais intrigantes da história da arte e o maior expoente do pós-impressionismo, Van Gogh também se destacou por seus traços marcantes e um detalhe que conferia unidade a todo o seu conjunto de obras: o “Amarelo de Van Gogh”.

Há todo um misticismo por trás do fascínio do pintor holandês pela cor, que pode ser analisado sob dimensões psicológicas, históricas ou sensíveis. Embora as explicações variem, a cor em si é específica. O artista não utilizava qualquer amarelo, mas um amarelo brilhante, vivo e… com cheiro de urina?

O famoso “Amarelo Indiano” era vendido por uma fortuna na Europa do século XVIII e apresentava uma tonalidade e intensidade que nenhum outro pigmento da época poderia alcançar. Contudo, seu modo de produção é um tanto peculiar. Fabricado na zona rural de Bihar, era feito com urina de vaca!

Isso mesmo: da urina de vacas indianas surgiu uma das mais fantásticas obras de arte, um verdadeiro presente da humanidade para a humanidade: Doze Girassóis numa Jarra. Após a coleta, a urina era colocada em jarros de barro, fervida, filtrada e transformada em bolas, que secavam ao sol e, em seguida, eram submetidas ao fogo.

A maneira quase poética de produção condiz bem com o uso que Van Gogh fez da cor, embora seu método de coleta não seja igualmente aceitável. É importante destacar que, na Índia, a vaca é considerada um animal sagrado, e a submissão desses animais para a coleta de urina exigia uma dieta muito rigorosa e prejudicial à saúde das vacas.

Alimentados exclusivamente com folhas de manga, os animais ficavam desnutridos e tinham uma expectativa de vida de apenas dois anos. Não é surpresa que o desprezo pelo modo de produção comercial dessa urina tenha levado à sua proibição no país. Contudo, a prática se estendeu até o início do século XX, quando um decreto finalmente tornou ilegal a venda do Amarelo de Van Gogh.