Casa muito limpa pode fazer mal à saúde; entenda
A cada hora, uma pessoa libera cerca de 31 miligramas de massa microbiana no ambiente, incluindo 37 milhões de cópias de genomas bacterianos e 7 milhões de genomas de fungos

O corpo humano não é apenas uma junção de órgãos, tecidos e células, ele é também o lar de um universo invisível: o microbioma humano. Trilhões de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus, habitam cada parte de nós – da pele ao intestino – e exercem funções essenciais para a nossa saúde. Este ecossistema único não só é moldado por fatores como genética, dieta, e estilo de vida, mas também está profundamente ligado ao ambiente em que vivemos.
Pesquisas recentes, conduzidas pelos cientistas Jack Gilbert (Universidade da Califórnia, San Diego) e Erica Hartmann (Universidade Northwestern), revelam como o microbioma humano interage com o ambiente doméstico. Publicado na Nature Reviews Microbiology, o estudo sugere que a obsessão moderna por ambientes excessivamente limpos pode ser prejudicial à saúde, contradizendo a ideia popular de que uma casa livre de micróbios é mais saudável.
A cada hora, uma pessoa libera cerca de 31 miligramas de massa microbiana no ambiente, incluindo 37 milhões de cópias de genomas bacterianos e 7 milhões de genomas de fungos. Essas interações moldam o microbioma do lar, criando um ecossistema influenciado pelas pessoas, animais, plantas e até mesmo pelo solo e ar ao redor.
Curiosamente, o microbioma de familiares, amigos próximos e até vizinhos tende a ser similar. Isso ocorre porque as pessoas compartilham microrganismos ao interagir e ocupar espaços em comum. Entretanto, enquanto algumas dessas trocas são benéficas, a busca por “limpeza absoluta” pode acabar prejudicando esse equilíbrio natural.
A chamada “hipótese da higiene”, proposta há décadas, sugere que uma exposição moderada a micróbios ambientais é crucial para “educar” o sistema imunológico. Essa ideia ganha cada vez mais força entre os cientistas, que observam o aumento de doenças autoimunes e alergias em sociedades excessivamente higienizadas.
Além disso, casas urbanas, mais distantes da natureza, apresentam microbiomas domésticos menos diversos e, potencialmente, menos saudáveis. Estudos indicam que morar próximo a ecossistemas naturais favorece um microbioma equilibrado, o que, por sua vez, pode reduzir problemas de saúde a longo prazo.