Por que sonhamos? Saiba o que a ciência e a psicologia dizem
A ciência e a psicologia contemporâneas oferecem respostas diferentes ao tema, mas isso não significa que precisamos descartar uma para aceitar a outra.

Descartes questionava qual seria o fundamento para diferenciar o sonho da vigília, chegando ao ponto de precisar introduzir a ideia de um Deus que não nos engane quanto ao conhecimento intuitivo de que há, de fato, uma diferença. Se temos sonhos tão vívidos quanto a própria vida — se sentimos o toque e o cheiro das coisas, se as vemos e usamos todos os nossos sentidos tanto em sonho quanto dispersos — torna-se realmente difícil distinguir o que é sonho e o que é real.
Vamos analisar o que quatro séculos fizeram com a pergunta do filósofo. A ciência e a psicologia contemporâneas oferecem respostas diferentes ao tema, mas isso não significa que precisamos descartar uma para aceitar a outra. Elas podem ser vistas de forma complementar. Comecemos pela resposta científica:
De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (APA), os sonhos são um estado fisiológico e psicologicamente consciente que ocorre durante o sono. Durante esse período, o indivíduo vivencia uma série de experiências sensoriais, emocionais e motoras, que podem ou não se assemelhar à realidade.
Embora o motivo pelo qual sonhamos ainda seja um ponto de divergência entre os cientistas, uma das hipóteses mais aceitas é que os sonhos ajudam a preparar o cérebro para situações de risco, a esquecer aspectos irrelevantes do dia a dia, a fortalecer a memória e a manter as ondas cerebrais ativas. No entanto, a psicanálise se aprofunda ainda mais nesse tema.
Com a definição de inconsciente — a camada mais íntima do pensamento à qual não temos acesso total de forma racional — a psicanálise e a psicologia contemporânea associam o sonho a um fenômeno ligado às experiências do dia a dia. Segundo essa perspectiva, as questões que o sujeito não consegue processar ou digerir adequadamente durante a vigília são trabalhadas e desenvolvidas em sonho.
Na ausência da vigília, não temos o olhar do Outro nos condicionando a agir de determinada maneira, o que torna nossas ações nos sonhos mais flexíveis em relação às limitações culturais impostas enquanto estamos acordados. O sonho, então, representa uma produção de pensamento mais próxima do inconsciente do que as experiências que temos quando estamos despertos, revelando a verdade do Eu com mais precisão que as ações concretas no mundo.
Apesar dos avanços significativos na compreensão do significado dos sonhos, ainda restam dilemas não resolvidos. Talvez 400 anos não sejam tempo suficiente para solucioná-los. Ainda não sabemos exatamente o que é o sonho ou qual sua diferença ontológica em relação à experiência real, mas entendemos sua função: nosso corpo necessita desse desenvolvimento, dessa imaginação alienada da realidade, para organizar aquilo que é mais íntimo e real dentro de nós, nossa consciência.