A prática de acelerar vídeos, podcasts ou áudios em 1,5x ou até 2x virou um hábito comum entre pessoas que buscam otimizar o tempo em uma rotina cada vez mais acelerada. No entanto, essa estratégia de “ganhar tempo” pode trazer consequências sérias para o funcionamento do cérebro e até impactar a saúde mental, segundo estudos recentes nas áreas da psicologia e neurociência.

Embora pareça inofensivo, consumir conteúdos em velocidade aumentada exige muito mais da chamada memória de trabalho — a parte do cérebro responsável por processar e organizar as informações em tempo real. Quando essa memória é sobrecarregada, a capacidade de absorção e retenção de conteúdo diminui drasticamente.

Um experimento conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia analisou o desempenho de 24 estudantes ao assistirem aulas em diferentes velocidades. Enquanto assistir em 1,5x não demonstrou grande diferença na retenção, a partir da velocidade 2x os participantes apresentaram uma queda significativa no desempenho nos testes aplicados em seguida. Isso indica que quanto mais rápido o conteúdo, menos o cérebro consegue fixar o que foi aprendido.

Além do impacto cognitivo, há também um efeito emocional considerável, especialmente entre pessoas que já enfrentam transtornos como a ansiedade. Acelerar tudo cria um estado mental de corrida contra o tempo, que reforça a ansiedade e reduz a capacidade de atenção plena. É como se a pessoa estivesse sempre atrasada, mesmo quando está no controle do relógio.

Outro ponto preocupante é que esse tipo de consumo apressado pode impedir a internalização real do conteúdo. Ou seja, você pode até ouvir ou assistir algo até o fim, mas não necessariamente vai compreender ou lembrar do que foi dito. Isso pode gerar frustração, sensação de incapacidade e, em alguns casos, afetar a autoestima intelectual.

Em um mundo que valoriza a produtividade a qualquer custo, desacelerar virou um ato de resistência — e de autocuidado. O cérebro humano tem seu próprio ritmo, e embora a tecnologia permita “atalhos”, nem sempre eles valem a pena, podendo causar transtornos e até doenças graves como depressão ou ansiedade e dependência.