Durante muito tempo, a adolescência não foi considerada uma fase legítima do desenvolvimento humano. Em vez de serem reconhecidos como indivíduos em formação, adolescentes eram tratados como adultos em miniatura, sem direitos próprios ou qualquer tipo de suporte emocional ou psicológico. A visão de que essa etapa da vida seria uma espécie de “erro biológico” permeou discursos científicos e sociais até relativamente pouco tempo atrás.

Segundo historiadores como Philippe Ariès, que estudou profundamente a construção social da infância e da juventude, até o século XIX as sociedades europeias praticamente ignoravam as especificidades da adolescência. Crianças e adolescentes eram lançados precocemente no mundo do trabalho, assumindo responsabilidades adultas antes mesmo de compreenderem quem eram. Não havia espaço para a construção da identidade ou para o acolhimento das transformações físicas e emocionais típicas dessa idade.

Esse cenário começou a mudar lentamente ao longo do século XX, com o avanço de áreas como a psicologia, a medicina e a pedagogia. Especialistas passaram a entender que a adolescência não é um estágio de transição qualquer, mas uma fase essencial e delicada do desenvolvimento humano. Foi nesse contexto que surgiram os primeiros movimentos em defesa dos direitos da infância e da juventude — mudanças que só se consolidaram de forma mais clara com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no Brasil, em 1990.

Até então, os jovens eram frequentemente vistos como ameaça à ordem social. Quando se desviavam das normas — seja por rebeldia ou vulnerabilidade social —, eram internados em manicômios, reformatórios ou instituições de caráter punitivo, sem qualquer suporte educativo ou psicológico. A criminalização da juventude, em muitos contextos, serviu como instrumento de controle social.

Hoje, a ciência e a educação reconhecem a adolescência como uma etapa complexa, marcada por transformações profundas no campo emocional, social e cognitivo, muito diferente do caráter animalesco onde a diferença fundamental apenas residia no “filhote” e no “adulto”. e respeito”. Do que falamos aqui é mais um avanço do conceito de humanidade do que um avanço científico, já que não há uma camada biológica que separa um adolescente de um adulto, mas uma questão prática e social não plenamente desenvolvida no jovem no qual se definiu melhor o “ser adulto” aos 18 anos de idade.