Alimentação gordurosa afeta diretamente sua memória e pode causar hiperatividade, diz estudo
Esse achado indica que os circuitos de memória são extremamente sensíveis às mudanças alimentares e podem ser afetados de forma quase imediata.

Um novo estudo da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte (UNC), publicado na revista científica Neuron na última quinta-feira (11), apontou que dietas ricas em gordura e alimentos ultraprocessados — como fast food e lanches industrializados — podem provocar danos rápidos e diretos ao cérebro, afetando a memória e até gerando quadros de hiperatividade neuronal. A pesquisa mostra que esse tipo de alimentação pode comprometer funções cognitivas mesmo antes de ocorrer o ganho de peso associado à obesidade.
Segundo os cientistas, alimentos com alto teor de gordura e calorias alteram o funcionamento de uma região do cérebro conhecida como hipocampo, responsável pela memória e pelo aprendizado. A equipe identificou que células específicas dessa área, chamadas interneurônios CCK, ficam anormalmente ativas após a ingestão de junk food, como hambúrgueres e batatas fritas. Essa hiperatividade persiste por dias, interrompendo o processamento normal da memória, e está relacionada a uma dificuldade do cérebro em receber glicose, combustível essencial para o bom funcionamento das células nervosas.
Outro ponto importante observado pelos pesquisadores foi o papel da proteína PKM2, responsável por regular o uso de energia no cérebro. Quando a alimentação gordurosa é frequente, essa proteína passa a sustentar o estado de hiperatividade dos neurônios, ampliando os danos cognitivos.
Os experimentos foram realizados em camundongos submetidos a uma dieta gordurosa por quatro dias. Mesmo em tão pouco tempo, os animais apresentaram dificuldades de memória e alterações comportamentais, que foram revertidas apenas quando os níveis de glicose cerebral foram corrigidos. Esse achado indica que os circuitos de memória são extremamente sensíveis às mudanças alimentares e podem ser afetados de forma quase imediata.
A pesquisa sugere que mudanças na dieta, uso de medicamentos específicos ou até práticas como o jejum intermitente após refeições calóricas podem ajudar a normalizar a atividade dos interneurônios CCK e melhorar a memória. Além de associar esse tipo de alimentação ao risco de declínio cognitivo precoce, os cientistas alertam que o consumo frequente de gordura saturada pode elevar significativamente as chances de desenvolver doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e demência.