Aumento em casos de TDAH em adultos trazem risco de demência generalizada
O TDAH pode comprometer a "reserva cognitiva" do cérebro, tornando-o menos capaz de compensar o desgaste cognitivo natural do envelhecimento, causando demência.

Quando falamos de TDAH em adultos, muitos imaginam confusão na agenda, dezenas de abas abertas no navegador e aquela ânsia de começar várias tarefas simultaneamente. No entanto, o tema é sério. Estima-se que o transtorno afete entre 5% e 8% da população, segundo dados da ABDA; sem diagnóstico ou tratamento adequados, ele pode causar até mesmo demência.
Um novo estudo acende um alerta importante: adultos com TDAH têm significativamente mais chance de desenvolver demência com o passar dos anos. A base do estudo consiste em dados médicos de mais de 109 mil pessoas nascidas entre 1933 e 1952, acompanhadas entre 2003 e 2020. Foi observado que, nesse período, 13,2% dos adultos com diagnóstico de TDAH desenvolveram demência, enquanto no grupo sem TDAH essa taxa foi de 7,0%.
Estatisticamente, após ajustes para fatores como idade, sexo, doenças crônicas e outros possíveis vieses, o risco de demência foi 2,77 vezes maior entre quem tinha TDAH — valor consistente mesmo em diversas análises complementares. A equipe de pesquisa, liderada por Abraham Reichenberg e colegas, levantou uma explicação plausível: o TDAH pode comprometer a “reserva cognitiva” do cérebro, tornando-o menos capaz de compensar o desgaste cognitivo natural do envelhecimento. Ou seja, diante dos declínios típicos da idade, pessoas com TDAH podem ter menos margem de adaptação.
Um dado otimista também surgiu: o estudo indicou que adultos com TDAH que fazem uso de medicações psicoestimulantes — como Ritalina ou Concerta — não apresentaram aumento significativo no risco de demência, sugerindo que o tratamento pode atenuar essa vulnerabilidade.
Os próprios autores pedem cautela. Eles ressaltam que os estudos sobre TDAH, envelhecimento e demência ainda são limitados. É preciso distinguir com clareza o efeito direto do TDAH de influências de outros fatores, como depressão, ansiedade, hábitos de vida, doenças cardiovasculares ou tabagismo, que também elevam o risco de demência. Além disso, por ser observacional, o estudo não prova causalidade, apenas associações.
Ainda assim, o recado é importante: o aumento nos diagnósticos de TDAH em adultos da atual geração pode ocasionar um risco autíssimo de vermos casos de demência muito mais comuns em nossos futuros idosos. Causas atuais como tempo de tela, falta de foco em apenas uma atividade, falta de leitura, consumir vídeos acelerados etc, contribui para esse mundo possível.