Bebês Reborn podem virar caso de polícia; entenda
Há registros de adultos tentando registrar os reborn em cartórios fictícios, buscar atendimento médico emergencial com os bonecos em unidades de saúde e até utilizar esses “filhos de silicone” para obter vantagens indevidas.

O que começou como uma forma artística delicada de recriar bebês em miniatura, evoluiu para um fenômeno que hoje ultrapassa os limites do simbólico e começa a gerar preocupação jurídica e institucional no Brasil. Os bebês reborn — bonecos hiper-realistas feitos à mão para parecerem recém-nascidos — deixaram de ser apenas peças de coleção ou instrumentos terapêuticos e passaram a protagonizar situações que podem até mesmo envolver a polícia.
Nos últimos anos, o mercado de bonecos reborn explodiu, impulsionado principalmente por comunidades online, influenciadoras que simulam rotinas maternas e o apelo emocional que esses bonecos oferecem a pessoas que vivenciam luto, infertilidade ou outros traumas ligados à maternidade. Com valores que podem ultrapassar R$ 5 mil por unidade, a fabricação artesanal atrai também artesãos e colecionadores que veem ali uma forma legítima de expressão e conforto emocional.
No entanto, o uso excessivo ou descontextualizado desses bonecos tem acendido alertas. Há registros de adultos tentando registrar os reborn em cartórios fictícios, buscar atendimento médico emergencial com os bonecos em unidades de saúde e até utilizar esses “filhos de silicone” para obter vantagens indevidas, como prioridade em filas ou benefícios sociais. Situações assim têm gerado confusão em hospitais e equipamentos públicos, sobrecarregando profissionais e expondo lacunas legais sobre até onde o simbolismo pode ser tolerado.
Em resposta a esses casos, três projetos de lei foram apresentados na Câmara dos Deputados para regulamentar o uso dos bebês reborn no Brasil. As propostas incluem desde a proibição explícita de atendimento médico a esses bonecos, até a aplicação de penalidades para quem tentar usar os reborn como instrumento de fraude. As medidas preveem advertências formais, multas que podem chegar a 20 salários mínimos e, em casos mais graves, sanções administrativas a servidores públicos que colaborarem involuntariamente com práticas ilegais.
A psicologia, no entanto, trata o tema com mais nuance. Profissionais reconhecem o valor terapêutico dos bonecos em contextos controlados — especialmente em casos de pacientes com demência, ansiedade ou perdas gestacionais. Mas alertam que, quando o uso ultrapassa o campo simbólico e interfere na vida pública ou institucional, é necessário um olhar mais criterioso.
O uso de bonecos reborn como ferramenta de apoio emocional não é exclusividade brasileira. Em países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão, eles são empregados em terapias para idosos com Alzheimer ou em simulações educacionais. No entanto, a institucionalização do vínculo afetivo como se fosse uma parentalidade real é um fenômeno relativamente novo e pouco regulamentado — o que levanta desafios éticos e jurídicos para legisladores e profissionais da saúde.