Brasileira com câncer ginecológico realiza cirurgia inédita, move útero e engravida
Aos 30 anos, com desejo de engravidar, Angélica Hodrcker passou por um procedimento de transposição uterina para preservar a fertilidade. A técnica é inovadora no Brasil.

A história de Angélica Hodecker é um exemplo emocionante de perseverança e superação diante de um diagnóstico devastador. Aos 30 anos, recém-casada e com o sonho de ser mãe, ela recebeu a notícia de que estava com câncer de colo de útero, o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Esse diagnóstico a forçou a enfrentar decisões difíceis, especialmente quando se tratava de preservar sua fertilidade.
O primeiro tratamento proposto foi radical: a remoção do útero, das trompas e dos ovários, uma medida para eliminar as chances de o câncer se espalhar, mas que também significaria o fim do seu sonho de engravidar. Em busca de alternativas, Angélica procurou uma segunda opinião. O médico sugeriu uma conização, um procedimento que retira apenas a parte do colo do útero afetada pela doença, preservando o restante do aparelho reprodutor.
No entanto, após o procedimento, os exames mostraram que o tumor não havia sido completamente eliminado, o que exigiria quimioterapia e radioterapia pélvica. Como efeito colateral, a radioterapia a deixaria infértil. Embora o congelamento de óvulos fosse uma opção, ela ainda enfrentaria a impossibilidade de engravidar de forma natural.
Persistente, Angélica procurou uma terceira opinião e foi apresentada a uma alternativa inovadora: a transposição uterina, uma cirurgia experimental que reposiciona o útero, as trompas e os ovários para a parte superior do abdômen, entre o fígado e o umbigo, com o objetivo de protegê-los dos efeitos da radioterapia. Essa técnica foi desenvolvida em 2015 e, embora já tenha sido realizada em algumas mulheres no Brasil, nunca havia sido aplicada em uma paciente com câncer de colo de útero – o que tornaria o caso de Angélica pioneiro na literatura médica mundial.
Após analisar cuidadosamente as opções, Angélica decidiu seguir adiante com a cirurgia. Em uma semana, ela estava no centro cirúrgico. A operação foi considerada um sucesso, e, em menos de 10 dias, ela já iniciava as sessões de radioterapia, completando um total de 25 sessões diárias e seis semanas de quimioterapia. Após concluir o tratamento, em março de 2021, Angélica passou pela cirurgia para reposicionar seus órgãos reprodutivos em seu local original.
A expectativa era de que ela conseguisse engravidar de forma natural dentro de um ano. Caso contrário, o casal recorreria à reprodução assistida. Para surpresa de todos, em apenas cinco meses, Angélica engravidou naturalmente. Em 24 de dezembro de 2022, Isabel – carinhosamente chamada de Bebel – nasceu saudável, com 2,2 kg e 43 cm, tornando-se um verdadeiro milagre.
O nascimento de Bebel não só foi um momento de grande alegria para a família, mas também uma conquista significativa para a medicina. A história de Angélica foi registrada no Journal of Surgical Oncology em agosto de 2024, abrindo portas para outras mulheres com câncer ginecológico que desejam preservar sua fertilidade. O caso de Angélica representa não apenas uma vitória pessoal, mas também uma revolução científica, mostrando que a inovação e a perseverança podem criar novas possibilidades para quem enfrenta o câncer.