Durante boa parte da história da humanidade, o lado esquerdo e os que utilizam mais essa mão foram vítimas de preconceito cultural, social e religioso. Mais recentemente, com a fundação das escolas, todo o sistema de método de ensino contém, carregado dentro de si, uma norma que constrange e oprime as diferenças até nos seus mais fundamentais movimentos.

Hoje a ciência já sabe que não há qualquer fator genético na causa de uma preferência quanto à funcionabilidade de um membro em relação ao outro. Ser destro ou canhoto não é uma questão biológica, se trata de hábito e desenvolvimento. Sem cair em uma seleção natural simples e por muita das vezes preconceituosa, a maioria das pessoas ao redor do mundo inteiro são destras e não canhotas, porém, o comum não é sempre o melhor.

A hierarquia de termos como destro e canhoto é, na verdade, cultural. Vemos na bíblia passagens claras de uma preferência quanto ao braço direito, ou a famosa passagem em que, no apocalipse, os escolhidos por Deus são colocados à direita, enquanto a esquerda restaria para os condenados.

Se os limites do meu mundo são os limites da minha linguagem, como sintetiza bem o filósofo austríaco Wittgenstein, também a escolha simbólica de nossa cultura através dessas palavras passadas de geração em geração decidem e ditam o rumo do que é “normal” ou comum. Tais preconceitos, no sentido estrito da palavra, fazem com que desenvolvamos apenas algumas partes de nossas potencialidades e a isso chamemos “natureza humana”.

A capacidade exploratória do que um corpo pode fazer, como ressalta o filósofo francês Deleuze, ainda está, muita das vezes, escondida sob o véu de nossa ideia mística de racionalidade, perfeita, imutável, essencial e estática. Muito do que chamamos natural, é importante dizer, é na verdade uma questão de costume, de hábito. O mundo humano é socialmente construído, não é natural – Hegel.