Cientista se tranca em caverna por 8 semanas para descobrir a verdade do relógio biológico
Um dos testes mais impressionantes envolvia sua percepção do tempo.

Em 1962, o geólogo francês Michel Siffre se lançou em uma aventura inédita para responder a uma pergunta curiosa: o que aconteceria com os humanos se perdessem toda a noção do tempo? Para isso, Siffre se isolou por semanas em uma caverna nos Alpes, sem luz natural e sem qualquer referência ao mundo exterior.
Siffre passou dois meses em uma caverna a 130 metros de profundidade, munido apenas de uma lâmpada de mineração para cozinhar, ler e escrever. Sem relógios ou calendários, ele se guiava apenas por seus próprios ritmos biológicos. O experimento mudaria para sempre o entendimento da ciência sobre o relógio biológico humano:
“Decidir viver como um animal, sem relógio, no escuro e sem saber o tempo”, disse ele à revista Cabinet em 2008. Uma equipe posicionada na entrada da caverna anotava os relatos de Siffre, que podia se comunicar apenas para informar quando acordava, comia e ia dormir. A equipe, no entanto, não podia dar qualquer informação sobre o tempo decorrido ou o horário no mundo externo.
Sem os marcadores naturais do dia, como o nascer e o pôr do sol, Siffre percebeu que seu corpo seguia um ciclo diferente: aproximadamente 48 horas, e não as 24 horas tradicionais. Ele comia e dormia apenas quando seu corpo pedia, sem imposições externas. Um dos testes mais impressionantes envolvia sua percepção do tempo. Ao contar até 120, o cientista levava cerca de cinco minutos — indicando que seu senso temporal havia desacelerado drasticamente.
“Psicologicamente, eu vivenciei cinco minutos reais como se fossem dois”, relatou. Originalmente planejado para durar um mês, o experimento terminou com Siffre emergindo da caverna dois meses depois. “Meu tempo psicológico havia sido reduzido à metade. Eu vivi dois meses como se fossem um”, explicou.
As descobertas de Siffre deram origem a um novo campo de pesquisa: a cronobiologia humana. Ele repetiu experimentos semelhantes com outros voluntários e foi procurado por instituições como o Exército francês e a NASA, interessadas nos efeitos do isolamento e da privação de tempo. Em 1975, Siffre passou cinco meses isolado em uma nova caverna. Dessa vez, além da percepção do tempo, enfrentou outro desafio: a solidão extrema.
“Ele alterna períodos de grande atividade com momentos de depressão”, disse um assistente ao The New York Times na época. Michel Siffre faleceu em agosto de 2024, aos 85 anos, em Nice, França. Durante sua vida, deixou um legado de pesquisa sobre os ritmos da existência humana e os limites da percepção. Seu diário na caverna originou o livro Beyond Time, publicado em 1964.