Diante da crescente urgência climática, cientistas têm buscado soluções que parecem ter vindo direto de um filme de ficção científica. Uma proposta ambiciosa e polêmica que ganha força nos bastidores da ciência climática é a criação de um “escudo solar” para reduzir a incidência de luz solar sobre a Terra e, assim, conter o aquecimento global.

A ideia não é cobrir o planeta com uma estrutura física, mas sim realizar a injeção de partículas refletoras na estratosfera – técnica conhecida como geoengenharia solar. O experimento, que deverá começar em breve, será conduzido com o apoio do governo do Reino Unido e supervisionado pela Agência de Pesquisa e Invenção Avançada (Aria).

O plano envolve a liberação de aerossóis que, ao se dispersarem em altas altitudes, formariam uma espécie de véu microscópico, capaz de refletir parte da radiação solar de volta para o espaço. Se bem-sucedida, essa medida poderá ajudar a resfriar a atmosfera terrestre e mitigar os efeitos extremos das mudanças climáticas, como ondas de calor, secas e derretimento das calotas polares.

Inspirada em fenômenos naturais – como a erupção do vulcão Pinatubo em 1991, que liberou dióxido de enxofre na estratosfera e causou um leve resfriamento global temporário – a técnica, apesar de promissora, ainda levanta muitas questões. Especialistas alertam para os riscos potenciais, como alterações nos padrões de chuva, impactos imprevisíveis na agricultura e possíveis efeitos colaterais em ecossistemas sensíveis.

Por isso, os cientistas britânicos decidiram adotar uma abordagem cautelosa. O teste inicial será realizado em pequena escala e com substâncias seguras, sem riscos tóxicos. A Aria também anunciou que a população local será consultada antes de qualquer intervenção ambiental. O investimento no projeto ultrapassa os 50 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 380 milhões), o que reforça a seriedade da empreitada.

O uso da geoengenharia divide opiniões entre pesquisadores e ambientalistas. Enquanto alguns defendem que ela pode ser uma ferramenta temporária importante enquanto o mundo reduz suas emissões de carbono, outros alertam que essa “solução tecnológica” pode ser usada como desculpa para adiar ações mais estruturais, como o fim do uso de combustíveis fósseis.