As sombras fazem parte do nosso cotidiano de forma tão natural que, muitas vezes, nem pensamos sobre elas. Elas aparecem sempre que um objeto bloqueia a passagem da luz, protegendo-nos do sol ou criando formas em superfícies iluminadas. No entanto, o que parecia um conceito simples acaba de ganhar uma nova dimensão: cientistas descobriram que a luz, ela mesma, pode produzir sombras.

Essa descoberta intrigante foi feita por uma equipe de físicos da Universidade de Ottawa, no Canadá. O grupo conduziu um experimento em que dois feixes de laser interagiram, resultando no aparecimento de uma sombra visível, algo que desafia nossa intuição sobre o comportamento da luz. A intuição é a de que, não existindo nada no universo que não seja matéria, a luz também carregaria a próprio sombra por estar constituida de espaço.

No experimento, os pesquisadores dispararam um laser verde de alta potência através de um cristal de rubi, enquanto um segundo laser, azul, iluminava o cubo do outro lado. Quando o feixe azul foi projetado em uma tela, formou-se uma sombra horizontal provocada pelo feixe verde. Segundo os cientistas, o contraste dessa sombra é comparável ao de uma árvore bloqueando a luz solar em um dia claro!

A chave para o fenômeno está nas propriedades do rubi e na interação entre os dois lasers. O feixe verde altera localmente a forma como o rubi responde à luz azul, funcionando como se fosse um objeto sólido que interrompe parcialmente a passagem da luz. Assim, o laser azul atua como a “iluminação” que revela a sombra criada pelo laser verde.

Essa interação peculiar é explicada pela chamada absorção ótica não linear do rubi. O feixe verde aumenta a capacidade do cristal de absorver o laser azul, criando o efeito observado. Essa explicação, detalhada em um artigo publicado na revista científica Optics, ainda será testada por outros laboratórios para confirmar os resultados e explorar o fenômeno mais a fundo.