Os chamados “olhos puxados“, na linguagem científica, devem-se a uma característica conhecida como dobra epicântica (ou epicanto). Essa estrutura consiste em um pedaço de pele que cobre o canto interno dos olhos, indo do nariz até o início da sobrancelha, e é bastante comum em populações de origem asiática. Além disso, pode aparecer em outras etnias e contextos específicos.

A dobra epicântica é marcante entre povos da Ásia Oriental, como mongóis, chineses, coreanos e japoneses. Também é comum em grupos do Sudeste Asiático, incluindo vietnamitas, tailandeses, filipinos, indonésios, malaios e polinésios. Fora da Ásia, a característica também pode ser encontrada em povos inuítes no Canadá e até em algumas populações indígenas da América do Sul.

Além disso, a dobra pode aparecer em crianças de qualquer etnia durante os primeiros anos de vida, tendendo a desaparecer conforme o nariz cresce. Certas condições clínicas, como a Síndrome de Down, também estão associadas ao epicanto. Mas por que essa característica é tão comum entre populações asiáticas e em regiões mais frias?

A resposta parece estar na evolução e na adaptação ao ambiente. Uma teoria amplamente aceita sugere que a dobra epicântica reduz a entrada de luz nos olhos, protegendo contra a cegueira de neve — um desgaste da córnea causado pela intensa radiação ultravioleta refletida por superfícies geladas. Isso faz sentido em locais como a Sibéria e o Leste Asiático, onde o frio extremo e os invernos rigorosos predominam.

Estudos recentes reforçam essas hipóteses. Um artigo publicado em 2015 detalha como fatores climáticos moldaram a evolução dessa característica. Segundo a pesquisa, a forte luz ultravioleta, o frio extremo da Sibéria e a poeira do nordeste asiático levaram a um franzimento excessivo dos olhos como mecanismo de proteção. Com o tempo, esse comportamento resultou em uma hipertrofia do músculo orbicular, o que, combinado com outros fatores ambientais, contribuiu para a formação do epicanto.

Vale lembrar que, ao contrário de preconceitos ou estereótipos, o formato dos olhos de pessoas com ascendência asiática não afeta sua capacidade de enxergar. Trata-se de uma característica que exemplifica como os seres humanos se adaptaram a diferentes desafios ambientais ao longo da evolução.