De acordo com um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), determinados animais aquáticos transparentes, quando submetidos a situações de estresse, como falta de alimento ou lesões físicas, possuem a incrível capacidade de retornar do estágio adulto para uma fase larval anterior. Essa habilidade única funciona como uma forma de reversão temporal no desenvolvimento, na qual as água-vivas são especialistas.

O pesquisador Joan J. Soto-Angel, pós-doutorando na Universidade de Bergen, na Noruega, e principal autor do estudo, descreveu o processo como “impressionante”. Ele relatou que observar esses organismos regredindo lentamente para uma larva microscópica típica foi uma experiência fascinante e vê aí uma resposta para nosso futuro.

Esse fenômeno é extremamente raro, sendo conhecido em apenas duas outras espécies. De acordo com os autores do estudo, trata-se de uma estratégia de sobrevivência: em condições favoráveis, esses organismos, descritos como “Benjamin Buttons gelatinosos“, retomam seu crescimento até alcançar novamente a fase adulta, na qual se tornam Mnemiopsis leidyi sexualmente maduras.

Essa notável capacidade de rejuvenescer em cenários adversos, ao invés de sucumbir, explica o sucesso da M. leidyi como espécie invasora. Quando enfrentam fome, ferimentos ou situações extremas, esses animais simplesmente retornam a um estado larval e aguardam por melhores condições ambientais, comportamento bastante distinto da maioria dos outros seres vivos.

Os ctenóforos, grupo ao qual esses animais pertencem, estão entre os seres vivos mais antigos do planeta, existindo há milhões de anos, possivelmente até antes da separação entre vertebrados e invertebrados. Os pesquisadores agora pretendem aprofundar os estudos para entender os mecanismos moleculares responsáveis por essa reversão no desenvolvimento e analisar o impacto desse processo na rede nervosa do organismo, conforme explicou o coautor Pawel Burkhardt.