Saiba porque Papa Francisco não é bem visto na Argentina e nunca voltou ao país
Embora ausente fisicamente da Argentina, Francisco exerceu um papel ativo no cenário internacional.

Desde que assumiu o papado em 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio, conhecido mundialmente como Papa Francisco, percorreu dezenas de países levando mensagens de paz, justiça social e reformas dentro da Igreja. Mas há uma ausência notável em sua agenda internacional: sua terra natal, a Argentina.
Apesar de ter manifestado publicamente, em várias ocasiões, o desejo de visitar o país onde nasceu e iniciou sua trajetória religiosa, a visita nunca aconteceu — e, com sua morte, agora é certo que não acontecerá.
O papa Francisco nasceu e cresceu em Buenos Aires, onde também atuou como arcebispo antes de ser eleito pontífice. Desde sua eleição, realizou mais de 40 viagens internacionais e visitou mais de 60 países — mas nenhum deles foi a Argentina. Mesmo diante de convites e expectativas de parte da população, a volta nunca se concretizou.
A ausência não parece ser apenas uma questão de agenda. Analistas e biógrafos apontam que há uma série de motivos políticos e sociais por trás do afastamento. A jornalista Francesca Ambrogetti, coautora de uma das biografias mais conhecidas sobre o papa, afirma que Francisco é uma figura que desperta sentimentos ambíguos na Argentina, um país profundamente polarizado.
Ao longo dos anos, Francisco manteve uma relação tumultuada com os sucessivos presidentes argentinos. Ele foi um crítico declarado do governo de Néstor Kirchner e viveu uma relação oscilante com Cristina Kirchner, repleta de tensões e reconciliações. Com Mauricio Macri, o distanciamento foi evidente. Já com o atual presidente, Javier Milei, a situação beirou a hostilidade.
Durante a campanha presidencial de 2023, Milei chegou a chamar o papa de “imbecil” e “representante do maligno” — acusações que chocaram até mesmo parte dos seus aliados. Apesar disso, após a morte de Francisco, Milei decretou luto oficial de sete dias, reconhecendo sua importância global.
Embora ausente fisicamente da Argentina, Francisco exerceu um papel ativo no cenário internacional. Foi o primeiro papa a visitar países como Iraque, Emirados Árabes Unidos, Sudão do Sul, Mongólia, Timor-Leste e Bahrein. Também levou o Vaticano a uma atuação mais firme em temas como imigração, meio ambiente, combate à pobreza, desigualdade econômica e diálogo inter-religioso.