Explosões de supernovas e buracos negros estão entre as situações naturais que emitem raios gama radioativos – perigosos para os seres vivos devido à alta capacidade de penetração na pele, com a possibilidade de danos às células do corpo humano. Porém, nas últimas três décadas, fenômenos mais comuns que geram a mesma radioatividade foram encontrados dentro da Terra.

A novidade revela que o fenômeno ocorre devido às tempestades tropicais, mas essa identificação não foi tão simples. Isso porque os satélites da NASA, encarregados de fazer o reconhecimento dos raios gama, não foram criados para observar as energias provenientes da própria Terra. Logo, é um desafio concluir que a radiação também é emitida pelas trovoadas.

Para que isso acontecesse, os instrumentos de satélite precisavam estar no lugar exato e na hora certa para medir a intensidade do fenômeno. A descoberta ocorreu a partir de um voo realizado em um avião de espionagem ER-2, da própria NASA, diretamente no olho da tempestade. Nesse local, foi possível perceber que a radiação gama gerada pelas tempestades é bem mais comum do que se poderia prever. As conclusões estão descritas nos estudos publicados nesta quarta-feira (2) na revista Nature.

Antes, acreditava-se que os relâmpagos eram os responsáveis pela produção dos raios gama, mas, segundo o estudo, o que ocorre é o contrário: quando os raios aparecem, eles tendem a seguir as emissões de raios gama, que iniciam a descarga elétrica. Portanto, as tempestades que acontecem nos trópicos são maiores do que as de outras regiões, e mais da metade dessas chuvas apresenta radiação. A título de comparação, os pesquisadores sugerem que essa emissão de radiação gama em níveis mais baixos age como o vapor que é liberado de uma panela de pressão, limitando a quantidade de energia que pode ser acumulada na tempestade.

O professor de engenharia da Duke University e coautor dos artigos, Steve Cummer, explica que há muitos acontecimentos dentro das nuvens. “Quando as chuvas estão se desenvolvendo, as correntes de ar transformam-se em gotas de água e até em pedras de granizo e gelo, formando uma mistura eletricamente carregada. Com isso, a tempestade se separa em duas partes: a superior, carregada positivamente, e a inferior, negativamente. Essa carga forma um campo elétrico com potência equivalente a 100 milhões de pilhas AA.”

Martino Marisaldi, professor de física e tecnologia da Universidade de Bergen, detalhou o processo: “A dinâmica das nuvens de tempestade que emitem radiação gama contrasta radicalmente com a antiga visão quase estacionária dos brilhos, assemelhando-se mais a um enorme caldeirão fervente em termos de padrão e comportamento.” Um outro fato curioso é que a descoberta não é um alerta para a possibilidade de alguém encontrar uma dessas chuvas. Essa baixa quantidade de radiação só é perigosa em caso de contato frequente com a fonte. “A radiação seria o menor dos seus problemas se você se encontrasse lá. Os aviões evitam voar em núcleos de tempestades ativas devido à turbulência extrema e aos ventos”, explicou Steve Cummer.