Relatos de mudanças de personalidade após transplantes de órgãos, especialmente de coração, têm sido documentados desde o início dessas cirurgias. Por exemplo, na década de 1990, uma receptora afirmou ter desenvolvido um profundo amor pela música após receber o coração de um jovem músico.

Um estudo da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, entrevistou 47 pacientes que passaram por transplantes de órgãos. Os resultados mostraram que 89% dos participantes relataram mudanças de personalidade após a cirurgia, incluindo alterações no temperamento, emoções, preferências alimentares, identidade e crenças religiosas ou espirituais.

As causas dessas mudanças ainda não são totalmente compreendidas. Uma hipótese sugere que o efeito placebo, decorrente da alegria de receber uma nova chance de vida, possa influenciar positivamente a disposição do paciente. Outra possibilidade é que os medicamentos imunossupressores, necessários para evitar a rejeição do órgão, possam afetar o humor e a personalidade.

Além disso, alguns pesquisadores consideram que os órgãos transplantados possam influenciar o receptor por meio de hormônios e moléculas sinalizadoras liberadas pelas células do órgão doado. No caso do coração, por exemplo, ele libera hormônios peptídicos que podem afetar o sistema nervoso e, potencialmente, o humor e a personalidade do receptor.

Embora intrigantes, essas observações ainda carecem de comprovação científica robusta. Mais pesquisas são necessárias para entender plenamente os mecanismos por trás das mudanças de personalidade em receptores de transplantes de órgãos. Uma hipótese que vem crescendo é a de que nossos órgãos também retém capacidades de memória, algo que acreditávamos ser especificamente do cérebro.