Uso frequente de maconha altera DNA, aponta estudo
O consumo constante da substância tem a capacidade de mudar os genes responsaveis pela energia e imunidade.

Os efeitos da cannabis de alta potência — com teor de THC de 10% ou mais — no corpo humano podem deixar marcas significativas no DNA ao longo da vida, segundo um novo estudo. Os resultados foram publicados em forma de artigo na revista científica Molecular Psychiatry na última quarta-feira (16).
“Com o aumento do uso de cannabis e a maior disponibilidade das variedades mais potentes, há uma necessidade urgente de entender melhor seu impacto biológico, principalmente na saúde mental”, explicou a líder do estudo, Marta Di Forti.
Para chegar ao resultado, os cientistas investigaram a metilação do DNA, que é um tipo de molécula que pode se agregar ao DNA ao longo da vida e tem a capacidade de alterar o funcionamento e silenciar genes. Isso seria, portanto, um exemplo de mudança epigenética, que modifica os genes sem impactar a ordem dos cromossomos.
“Essas mudanças epigenéticas, moldadas pelo estilo de vida e exposições a diferentes substâncias, oferecem uma perspectiva valiosa sobre como o uso de cannabis pode influenciar a saúde mental por meio de vias biológicas”, afirma Di Forti.
Exatos 682 voluntários da Inglaterra, França, Holanda, Itália, Espanha e Brasil foram avaliados. Dentre eles, 239 já haviam apresentado episódios psicóticos em decorrência do uso de maconha. Além disso, Maria*, uma voluntária, faz uso de cannabis de alta potência mais de uma vez por semana desde os 16 anos. Esses usuários frequentes apresentaram alterações em genes relacionados à função mitocondrial e imunológica. As alterações foram comuns no gene CAVIN 1, principal responsável pela resposta imunológica do organismo.
“Com a maior disponibilidade de variedades de cannabis de alta potência em todo o mundo, essas análises podem nos ajudar a identificar os usuários com maior risco de desenvolver psicose, tanto em contextos de uso recreativo quanto medicinal”, concluiu o pesquisador.