Roberto Cabrini iniciou sua entrevista com Nego Di no Domingo Espetacular desta sexta-feira (16/6) com uma pergunta direta e incisiva: “Como alguém condenado a mais de 11 anos por estelionato explica a própria participação em uma fraude que atingiu centenas de pessoas?”. O ex-BBB tentou se defender, mas acabou encurralado pelo jornalista, que não deixou passar suas contradições.

No centro da polêmica está a loja virtual “Tadizuera”, que Nego Di divulgava como sua, mas que a Polícia Civil do Rio Grande do Sul acusa de ter causado prejuízos a 370 compradores e movimentado pelo menos R$ 5 milhões, resultando em mais de R$ 300 mil em danos comprovados. A Justiça o condenou em 10 de junho de 2025 a 11 anos e 8 meses de prisão, além de multa, por aplicar golpes dentro de um esquema descrito como “meticulosamente organizado”.

Durante a entrevista, o humorista sustentou que a loja pertencia a um ex-sócio, o empresário Anderson Bonetti — “estelionatário profissional”, segundo ele — e que teria sido levado a acreditar tratar-se de uma simples parceria comercial que não avançou por falta de contrato formal. Mas Cabrini confrontou o ex-BBB com prints em que dizia “a loja é minha, podem comprar”, forçando-o a recuar e admitir que se precipitou ao endossar a loja como se fosse dona.

Outra acusação grave envolvia uma suposta doação de R$ 1 milhão a vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Extratos bancários, porém, revelaram que apenas R$ 100 foram efetivamente doados. Questionado, Nego Di confessou a mentira, afirmando que foi algo “simbólico”. Ele sustentou que “doou metade do valor e combinei pagar o restante parcelado” e que acreditou que mentir serviria a um “impacto positivo”.

O comediante relatou ainda o sofrimento vivido na prisão. Chegou a perder 33 quilos e passou períodos de até 72 horas sem comer. “Fui para o pior lugar que um ser humano pode ir. Pior que aquilo, só o cemitério”, disse, afirmando que hoje vive com o apoio financeiro de sua esposa e sem acesso a seus bens, bloqueados pela Justiça.

O episódio evidencia um padrão: influenciadores digitais com grande alcance, como Nego Di, podem impulsionar golpes ao se mostrarem confiáveis — “usou sua influência nas redes sociais para atrair as vítimas”, afirmou o delegado Marcos Guns. No caso da Tadizuera, muitas vítimas tiveram que recorrer à polícia e ao site Reclame Aqui, onde foram registrados 443 queixas — apenas 12% respondidas, conforme levantamento.

No encerramento da entrevista, Nego Di pediu uma nova chance: “Estou tentando reconstruir minha vida. Eu preciso ser tratado com justiça”, disse, reforçando o desejo de seguir em liberdade provisória, embora ainda com restrições impostas pelo Superior Tribunal de Justiça, como a proibição de usar redes sociais.