Danilo Gentili fala em censura após condenação de Léo Lins
A condenação de Léo Lins envolve piadas feitas durante apresentações de stand-up, classificadas na decisão judicial como ofensivas e discriminatórias, com potencial de causar danos sociais.

Durante a edição recente do programa The Noite, transmitido pelo SBT, o apresentador Danilo Gentili fez um pronunciamento contundente ao comentar a condenação do comediante Léo Lins a mais de oito anos de prisão. A sentença, que também impôs multas milionárias ao humorista, gerou forte reação de Gentili, que classificou o episódio como um grave atentado à liberdade de expressão artística no Brasil.
Visivelmente indignado, Gentili questionou publicamente o que, para ele, é um descompasso alarmante entre as ações da Justiça e os princípios democráticos. “Qual foi o crime do comediante Léo Lins? Contar piadas em um show de humor”, disparou. Ele argumenta que o julgamento mistura elementos de ficção com interpretações jurídicas literais, distorcendo o papel do humor como arte provocativa e exagerada.
A condenação de Léo Lins envolve piadas feitas durante apresentações de stand-up, classificadas na decisão judicial como ofensivas e discriminatórias, com potencial de causar danos sociais. O Ministério Público sustentou que tais falas ultrapassaram os limites legais da liberdade de expressão ao ferirem direitos fundamentais de grupos vulneráveis. No entanto, para Gentili, essa linha é extremamente tênue e perigosamente subjetiva. Ele ressaltou que, em um país com problemas graves como corrupção, violência e fraudes sistemáticas em instituições públicas, o foco do sistema judiciário em punir comediantes soa como uma inversão de prioridades.
O apresentador também refutou os argumentos que sustentam a sentença, especialmente a ideia de que a liberdade de expressão deve ser limitada. “Quando dizem que liberdade de expressão não pode ser irrestrita, estão dizendo, na prática, que ela deve ser vigiada e cerceada”, afirmou. Ele defende que, mesmo quando o conteúdo é polêmico ou desconfortável, deve ser protegido como parte do exercício democrático e do direito à manifestação artística.
Gentili destacou que o humor sempre foi, por natureza, provocador e, muitas vezes, politicamente incorreto. Para ele, estabelecer limites formais sobre o que pode ou não ser dito em um palco de comédia pode abrir precedentes perigosos que, mais adiante, se estendam para outras formas de arte como literatura, música ou dramaturgia. “Se você começa a censurar o humor hoje, amanhã alguém pode querer limitar a poesia, a ficção ou a letra de uma música”, alertou.
Durante seu discurso, Gentili também relembrou sua própria experiência com o Judiciário, quando foi condenado em primeira instância por piadas feitas em rede social — processo que posteriormente foi revertido. Ele afirmou temer que a condenação de Léo Lins represente o início de uma escalada contra a liberdade criativa. “Essa é a segunda vez no Brasil em que um comediante é condenado à prisão. A primeira foi comigo. No meu caso, o bom senso prevaleceu. Espero que aconteça o mesmo agora.”
Ao encerrar sua fala, o apresentador fez um apelo à sociedade para refletir sobre os riscos de se normalizar a censura, ainda que em nome de causas legítimas. “Quando aplaudimos a condenação de um artista por algo dito em um palco, estamos autorizando o silêncio — e o silêncio imposto é sempre o primeiro passo rumo ao autoritarismo”, concluiu.