A polêmica envolvendo o padre Fábio de Melo e um ex-gerente da cafeteria Havanna, em Joinville (SC), ganhou proporções inesperadas e ultrapassou os limites da esfera pública, chegando até o Vaticano. O episódio teve início quando o religioso relatou, em suas redes sociais, ter sido tratado de forma rude durante uma visita à loja.

De acordo com o padre, ele questionou a divergência entre o preço exibido nas prateleiras e o valor cobrado no caixa por um pote de doce de leite. Segundo sua versão, o gerente teria sido ríspido ao afirmar que o preço era aquele e que, caso não concordasse, ele poderia simplesmente não levar o produto. O relato provocou forte repercussão nas redes sociais e culminou na demissão do funcionário, Jair José Aguiar da Rosa.

Paralelamente, a situação escalou dentro da estrutura eclesiástica. De acordo com o jornalista Ricardo Feltrin, um bispo de Santa Catarina formalizou uma denúncia contra o padre Fábio de Melo junto à Congregação para a Doutrina da Fé, órgão do Vaticano responsável por avaliar comportamentos desviantes de membros do clero. Criada em 1542 como um tribunal da Inquisição, a Congregação, hoje chamada de Dicastério para a Doutrina da Fé, atua como uma espécie de corregedoria da Igreja, apurando desde desvios éticos até crimes mais graves, como abusos sexuais e corrupção.

Segundo fontes próximas ao processo, a denúncia contra o padre não tem implicações canônicas severas, mas pode resultar em uma advertência formal, deixando um registro disciplinar. A motivação central da queixa seria a conduta considerada “não cristã” do religioso ao expor um trabalhador sem provas claras, contrariando os princípios de empatia e misericórdia propagados pela Igreja.

O próprio padre se manifestou posteriormente, dizendo estar emocionalmente abalado com os ataques virtuais que recebeu após o caso repercutir. Em uma publicação nas redes sociais, chegou a desabafar que estava “a um passo de desistir”, demonstrando o peso emocional da exposição pública. Do outro lado, Jair relatou que a experiência o levou a um quadro de depressão, abandono dos estudos — faltando poucos meses para se formar — e dificuldades para retomar a vida profissional e social.

Enquanto os processos jurídicos seguem tramitando na Justiça brasileira, o Vaticano decidirá se abrirá ou não uma apuração formal. Ainda que a consequência mais provável seja uma advertência interna, o episódio já deixou marcas tanto na imagem pública do padre Fábio quanto na trajetória pessoal do ex-funcionário.