Catacumbas perdidas: conheça a cidade milenar escondida debaixo da Itália
Cada uma dessas áreas inclui espaços familiares, capelas e igrejas adornadas com arte religiosa, preservando centenas de milhares de restos humanos, uma verdadeira cidade parada no tempo

Sob as ruas de Roma, escondem-se quilômetros de túneis e câmaras que formam as catacumbas romanas, na Itália, um imenso complexo subterrâneo onde jazem os mortos de séculos passados. Ocupando aproximadamente 243 hectares, essas catacumbas são um labirinto de corredores, distribuídos em múltiplos níveis, que remontam ao primeiro século da era cristã.
Cada uma dessas áreas inclui espaços familiares, capelas e igrejas adornadas com arte religiosa, preservando centenas de milhares de restos humanos, uma verdadeira cidade parada no tempo. As catacumbas surgiram em um contexto de rígida legislação funerária romana: a Lei das Doze Tábuas, de 450 a.C., proibia qualquer enterro ou cremação dentro dos muros de Roma.
Isso forçou judeus e cristãos a enterrarem seus mortos fora da cidade, e assim, surgiram esses espaços subterrâneos, que com o tempo se tornaram refúgios para a devoção cristã. Durante as perseguições, os cristãos faziam das catacumbas santuários dedicados a mártires e santos, atraindo fiéis que desejavam ser sepultados ao lado dessas figuras veneradas.
Quando o imperador Constantino legalizou o cristianismo no início do século IV, os enterros nas catacumbas diminuíram, e elas caíram em desuso. No entanto, no final do século XVI, o explorador Antonio Bosio redescobriu várias dessas catacumbas, documentando suas estruturas e obras de arte no livro Roma Sotterranea. Essa redescoberta reacendeu o interesse pela cultura e pelo simbolismo cristão, preservados em pinturas e esculturas esquecidas ao longo dos séculos.
Entre as mais antigas, as Catacumbas de Domitila, de San Calisto e de Priscila contêm alguns dos primeiros afrescos cristãos, incluindo representações de Jesus como o Bom Pastor e das figuras de Pedro e Paulo. Esses locais oferecem relíquias visuais da devoção e da iconografia cristã inicial, com destaque para a primeira representação dos Reis Magos na Catacumba de Priscila e cenas dos apóstolos junto a Jesus.
Atualmente, novas tecnologias, como o uso de lasers para limpar os afrescos, revelam uma paleta colorida escondida sob séculos de detritos e depósitos. A cada descoberta, um pouco mais da Roma subterrânea se desvela, oferecendo aos visitantes uma janela para o passado religioso da cidade, preservado sob a “Cidade Eterna”.